Custodio dos Passos, Muriel; Florentino Varella, Flávia y Araujo, Talita. Desafiar narrativas, registrar memorias: la Caminata Fotográfica por la Diversidad de Género en Wikimedia Commons como práctica de historia pública en la extensión universitaria. Cuadernos de Extensión Universitaria de la UNLPam, Vol. 9, N.º 2, julio – diciembre 2025Sección: Dossier, pp. 213-235.ISSN 2451-5930 e-ISSN 2718-7500. DOI https://doi.org/10.19137/cuadex-2025-09-0210

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DOSSIER
Desafiar narrativas, registrar memorias: la Caminata Fotográfica por la Diversidad de Género en Wikimedia Commons como práctica de historia pública en la extensión universitaria
Challenging narratives, capturing memories: the Photographic Walk for Gender Diversity on Wikimedia Commons as a practice of public history in university outreach
Desafiar narrativas, registrar memórias: a Caminhada Fotográfica para a Diversidade de Gênero no Wikimedia Commons como prática de história pública na extensão universitária
Muriel Custodio dos Passos
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
ORCID: https://orcid.org/0009-0009-3382-3293
Flávia Florentino Varella
Departamento de História - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7123-8807
Talita Araujo
Universidade Federal de Santa Catarina (UDESC)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1303-5811
Fecha de recepción: 02-04-2025 | Fecha de aceptación: 14-08-2025
Resumen
Este artículo presenta la experiencia de planificación y realización de la Caminata Fotográfica por la Diversidad de Género en Wikimedia Commons, una iniciativa de historia pública y extensión universitaria orientada a ampliar la representatividad LGBT+ en los proyectos Wikimedia. El evento, realizado en el Centro de Florianópolis, tuvo como objetivo registrar y subir imágenes de lugares de memoria de la comunidad LGBT+, promoviendo su visibilidad y patrimonialización digital. A partir de esta experiencia, discutimos los desafíos y aprendizajes en la organización de eventos wikimedistas, reflexionamos sobre la relación entre extensión y investigación y analizamos la caminata fotográfica como una práctica que articula memoria, espacio urbano y participación comunitaria.
Palabras clave: caminata fotográfica; historia LGBT+; diversidad de género; historia pública; Wikimedia Commons.
Abstract
This article presents the experience of planning and carrying out the Photographic Walk for Gender Diversity on Wikimedia Commons, a public history and university extension initiative aimed at expanding LGBT+ representation in Wikimedia projects. The event, held in downtown Florianópolis, sought to document and upload images of the LGBT+ community’s memory sites, promoting visibility and digital heritage preservation. Based on this experience, we discuss the challenges and lessons learned in organizing Wikimedia-related events, reflect on the relationship between extension and research, and analyze the photo walk as a practice that connects memory, urban space, and community engagement.
Keywords: photo walk; LGBT+ history; gender diversity; public history; Wikimedia Commons.
Resumo
Este artigo apresenta a experiência de planejamento e realização da Caminhada Fotográfica para a Diversidade de Gênero no Wikimedia Commons, uma iniciativa de história pública e extensão universitária voltada para ampliar a representatividade LGBT+ nos projetos Wikimedia. O evento, realizado no Centro de Florianópolis, teve como objetivo registrar e carregar imagens de lugares de memória da comunidade LGBT+, promovendo a visibilidade e a patrimonialização digital dessas histórias. A partir dessa experiência, discutimos desafios e aprendizados na organização de eventos wikimedistas, refletimos sobre a relação entre extensão e pesquisa e analisamos a caminhada fotográfica como uma prática de articulação entre memória, espaço urbano e engajamento comunitário.
Palavras-chave: Caminhada Fotográfica; História LGBT+; Diversidade de Gênero; História Pública; Wikimedia Commons.
Introdução
A popularização de dispositivos móveis com câmeras de qualidade e do compartilhamento cotidiano e instantâneo de imagens em redes sociais vivida nas últimas décadas não resultou no aumento automático da disponibilidade de fotografias para uso público. Grande parte dessas imagens permanece sujeita a restrições de acesso e barreiras legais, o que significa que, mesmo temas amplamente documentados visualmente, podem ter pouca representação em repositórios abertos, dificultando seus usos educacionais, acadêmicos e documentais.
Para enfrentar esse desafio e ampliar a oferta de imagens para esses fins, o movimento Wikimedia tem promovido diversas iniciativas voltadas ao carregamento de arquivos no Wikimedia Commons. Esse repositório reúne, organiza e distribui conteúdos educacionais — como imagens, vídeos e áudios — sob licenças livres. Integrada ao ecossistema Wikimedia, a plataforma possibilita que qualquer usuário registrado contribua voluntariamente. As formas de colaboração incluem o envio de novos arquivos, a edição de metadados e a categorização de materiais, facilitando sua reutilização em diferentes projetos, entre eles a Wikipédia (Wikimedia Commons, 2024b; 2024c).
Diante desse cenário, diversas campanhas globais incentivam a produção e o carregamento de imagens. Entre elas, destacam-se o Wiki Loves Monuments, voltado à documentação do patrimônio histórico; o Wiki Loves Earth, que incentiva o registro de áreas naturais protegidas; e o Wiki Loves Folk, focado na preservação de manifestações culturais e tradições populares. Além disso, eventos no formato Wiki Takes – conhecidos no Brasil como Wiki Ocupa – reúnem participantes para fotografar locais específicos e disponibilizar as imagens no Wikimedia Commons. Essas iniciativas enriquecem os projetos Wikimedia, democratizam o acesso ao conhecimento visual e contribuem para a salvaguarda da memória de diversas comunidades e sujeitos (Ramilo Araujo, 2024; Santamaria, 2024).
Embora haja esses esforços para tornar o Wikimedia Commons um repositório multimídia plural, ainda persistem lacunas significativas, muitas delas decorrentes de desigualdades no acesso à internet, do letramento digital limitado e das restrições de direitos autorais. No Brasil, mesmo figuras notáveis como Antonieta de Barros enfrentam dificuldades para uma representação adequada. Entre os 20 resultados encontrados ao buscar seu nome no repositório, há apenas uma fotografia sua, além de representações artísticas e monumentos. Esse déficit reflete a escassez de multimídias em domínio público ou sob licenças livres que retratam sujeitos historicamente marginalizados e de países periféricos.
As discussões sobre acesso ao conhecimento e preservação da memória dialogam com mudanças mais amplas na historiografia contemporânea. A partir da segunda metade do século XX, historiadores tornaram-se mais atentos à explicitação de seus lugares epistêmicos e à necessidade de refletir em termos ético-políticos diante das demandas sociais do presente (Araujo & Rangel, 2015; Pereira, 2018). Se nos anos 1970 a História Pública surgiu como uma alternativa profissional frente à crise de empregabilidade nas universidades estadunidenses, hoje o campo se consolidou e institucionalizou nas universidades, abrangendo diferentes formas de resposta – tanto de profissionais quanto de autodidatas – às demandas sociais por narrativas sobre o passado (Mauad; Almeida & Santhiago, 2016; Castro & Rodrigues, 2024).
É nesse contexto multifacetado que se insere a Caminhada Fotográfica para a Diversidade de Gênero no Wikimedia Commons, realizada em 20 de junho de 2024, no Centro de Florianópolis, Brasil. Organizada por profissionais formados ou em formação em História, a iniciativa se consolidou como uma prática de História Pública no âmbito da extensão universitária, adotando uma perspectiva de gênero[1]. Concordamos que se faz necessário “políticas de aliança entre universidade e comunidade, entre historiografia disciplinada e demandas públicas, entre teoria da história e história pública”, na qual os movimentos sociais se tornam interlocutores privilegiados (Rodrigues, 2024, p. 36), o que inclui coletivos wikimedistas e LGBT+.
O evento teve como objetivo registrar imagens de locais relevantes para a memória da população LGBT+ no Centro de Florianópolis e carregá-las no Wikimedia Commons. Entende-se que essa plataforma integra o “espaço público visual” da contemporaneidade, o qual se articula cada vez mais ao “espaço público virtual” (Mauad, 2018). Nesse sentido, a Caminhada se articula como uma história feita para e com o público (Santhiago, 2016, p. 27-28). Por um lado, foi planejada para o público, pois especialistas elaboraram o roteiro e apresentaram a história da população LGBT+ às pessoas participantes. Por outro, engajou o público na patrimonialização digital desses lugares, ao convidá-lo a registrar fotografias dos locais e carregar os arquivos no Wikimedia Commons. Assim, a iniciativa promoveu a documentação da memória LGBT+ e reafirmou o compromisso ético-político com o conhecimento aberto[2].
O artigo se estrutura em três seções principais. A primeira apresenta o planejamento do evento, detalhando as parcerias estabelecidas e a distribuição de tarefas entre as pessoas envolvidas. A segunda seção comenta o percurso da Caminhada Fotográfica, explorando os lugares de memória da comunidade LGBT+ em Florianópolis e as narrativas construídas ao longo do trajeto. Por fim, a última seção avalia os resultados alcançados, destacando os aprendizados obtidos e apontando perspectivas para futuras iniciativas semelhantes. Com a análise da Caminhada, documentamos sua realização e propomos diretrizes para a organização de atividades similares, considerando a ausência de um protocolo organizacional estabelecido para esse tipo de evento no movimento Wikimedia (Santamaria, 2024).
O planejamento da Caminhada Fotográfica
Como mencionado, as plataformas Wikimedia refletem tanto conquistas sociais quanto desigualdades e vieses estruturais. Um estudo sobre imagens em verbetes sobre profissões na Wikipédia em alemão revelou que homens aparecem em quase metade das imagens e que mulheres são representadas em apenas 12% dos verbetes, independentemente da distribuição real de gênero na profissão descrita. Esse padrão visual existente na plataforma acaba reforçando a masculinização das profissões (Zagovora; Flöck; Wagner, 2017). Além disso, menos de 20% dos artigos sobre mulheres na Wikipédia possuem representações imagéticas de seus rostos, contribuindo para sua invisibilização (Whose Knowledge?, 2024).
A resposta a esses problemas têm vindo, em grande parte, da mobilização de grupos dentro do movimento Wikimedia. Desde os primeiros anos, os editores LGBT+ participam ativamente da construção de conteúdo, apesar do anonimato e do receio de assédio. Em 2005, o usuário Davodd impulsionou a criação de categorias e portais sobre a temática LGBT+, além de fundar o projeto temático WikiProject LGBT Studies para incentivar a colaboração entre editores. Nesse contexto, surgiu o grupo de usuários Wikimedia LGBT+, reconhecido oficialmente pela Fundação Wikimedia em 2014 (Wexelbaum, 2019; Wexelbaum, Herzog y Rasberry, 2015).
A articulação global entre editores e projetos comunitários tem sido essencial para promover a visibilidade e inclusão de temas LGBT+ nas plataformas Wikimedia. Um exemplo desses esforços é a Caminhada Fotográfica para a diversidade de gênero no Wikimedia Commons, que buscou expandir o acervo de imagens sobre a presença LGBT+ em espaços públicos. Caminhadas fotográficas articulam poéticas e políticas da memória ao envolver dois atos performativos fundamentais: caminhar e fotografar. Enquanto as poéticas referem-se à criação e expressão, as políticas remetem à intervenção no espaço público (Gonçalves, 2021).
A ideia de realizar uma caminhada fotográfica surgiu no contexto do minicurso Wikipédia em Chave de Gêneros, organizado pelo Projeto Mais Teoria da História na Wiki. Como concluinte do curso, Muriel Custodio dos Passos recebeu um convite para realizar, com o suporte da equipe do Projeto, uma atividade que envolvesse alguma plataforma da Fundação Wikimedia. Além da parceria com esse projeto, a caminhada contou com a colaboração do grupo de usuários Wikimedia LGBT+, dos coletivos wikimedistas WikiMulheres+ e Wiki Editoras Lx, do Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH) e do Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e do Laboratório de História do Instituto Estadual de Educação (IEE). Essa foi a primeira experiência de todas as partes envolvidas com um evento dessa natureza, suscitando desafios e aprendizados.
As tarefas foram atribuídas de modo a combinar experiências prévias com a oportunidade de desenvolver novas habilidades. O Projeto Mais Teoria da História na Wiki desempenhou o papel de mediador entre as parcerias Wikimedia e acadêmicas, oferecendo suporte remoto no planejamento do evento, auxiliando na redação da proposta de financiamento via Rapid Fund para a Fundação Wikimedia e atuando presencialmente na facilitação da oficina de capacitação e no credenciamento dos participantes.
O LEGH e o IEG, como parcerias acadêmicas, forneceram a base teórica e metodológica que deu suporte à integração da fotografia com a análise histórica e a visibilidade das comunidades LGBT+. O Laboratório de História do IEE, por sua vez, foi o espaço onde o evento foi realizado. Como contrapartida, o prédio do IEE foi integrado ao roteiro para fotografia e divulgação no Wikimedia Commons. No entanto, devido ao atraso na programação e ao limite de tempo disponível para o uso do espaço, optou-se por deixar o registro fotográfico do local para oportunidades futuras[3].
A programação do evento foi pensada para acontecer das 10h às 16h, começando com o credenciamento, a entrega do material de apoio e o oferecimento de um brunch de boas-vindas, seguido pelas apresentações iniciais dos participantes. Na sequência, estava prevista uma capacitação com dicas de fotografia e orientação básica sobre o processo de carregamento das imagens no Wikimedia Commons. Além de aspectos técnicos como estabilidade e iluminação, enfatizou-se a importância de planos abertos no enquadramento, visando o reconhecimento dos locais, já que as fotografias presentes no Wikimedia Commons precisam ter um caráter educacional. Após a capacitação, as pessoas participantes iniciaram a caminhada fotográfica, seguindo o roteiro pré-estabelecido.
Ao final da caminhada, o grupo retornou à sede, onde pode trocar ideias enquanto um novo brunch era oferecido. Nesse momento, também houve a oportunidade de editar as fotos tiradas e finalizar o carregamento das imagens pelo aplicativo ou notebook. Posteriormente, as juradas Ana Carla Rodrigues, representante do Projeto Mais+, Andi Inácio, do grupo WikiMulheres+, e Tila Capelletto, do grupo Wiki Editoras Lx, decidiram remotamente, como parcerias wikimedistas, quais seriam as melhores fotografias capturadas durante a caminhada. Para essa seleção, estava previsto o uso da ferramenta Montage, mas seu uso não foi possível devido à exigência de carregamento das imagens com pelo menos duas horas de antecedência.
Em paralelo à votação, ocorreu uma Vogue Jam, uma prática coletiva de dança que, além de integrar os participantes da Caminhada, deu visibilidade ao protagonismo de comunidades dissidentes de gênero que compõem a cena cultural da cidade. O Vogue surgiu na cultura Ballroom e foi amplamente popularizado na década de 1980 pela canção homônima de Madonna. A comunidade Ballroom é composta por "casas" lideradas por figuras como mães e pais, e realiza bailes competitivos em categorias diversas (Lawrence, 1989). Na Caminhada, a Vogue Jam teve um duplo propósito: tornar a atividade mais atrativa para o público e dar visibilidade à comunidade Ballroom local, formada por pessoas LGBT+ negras, principalmente trans, que frequentemente enfrentam barreiras para ingresso no mercado de trabalho formal.
O evento foi encerrado com um agradecimento a todas as pessoas participantes e uma cerimônia de premiação com aquelas que capturaram as melhores imagens, com a entrega de flores e barnstars — uma medalha específica da comunidade Wikimedia. De modo geral, a programação seguiu o planejado, embora ajustes tenham sido necessários ao longo da execução para lidar com imprevistos. Os desafios enfrentados durante o evento e as alterações em sua realização serão analisados adiante.
A concepção do roteiro contou com a consultoria da Profa. Dra. Beatriz Mamigonian, que compartilhou sua experiência na elaboração e realização de roteiros históricos no projeto de extensão Santa Afro Catarina. Entre os aspectos abordados nesse diálogo, destacam-se a duração máxima da caminhada, os critérios de seleção dos pontos do percurso, o tamanho dos grupos e o uso de recursos visuais. O itinerário da caminhada foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira, foi realizado um levantamento de bibliografia acadêmica sobre a história da população LGBT+ em Florianópolis, que orientou a identificação dos lugares que poderiam integrar o percurso. Alguns locais, no entanto, foram excluídos devido à sua localização distante do Centro da cidade, como a Praia Mole, a sede do jornal Diário Catarinense e os condomínios da Rua Europa. Ao final dessa etapa, o roteiro se delineou a partir de dois eixos temáticos interligados: a formação dos espaços de sociabilidade “alternativos” a partir dos anos 1970, que possibilitaram a afirmação identitária da comunidade gay[4] na década seguinte; e as lutas políticas por direitos, bem como as conquistas obtidas entre o final da década de 1990 e os dias atuais.
Na segunda etapa, houve o refinamento da pesquisa, a elaboração de textos descritivos para cada local e a produção dos cartazes utilizados durante a caminhada. Também houve um ajuste no roteiro a partir de uma caminhada teste. Isso levou à inversão, no roteiro, da ordem de visitação à Praça XV de Novembro e à Avenida Hercílio Luz.
Figura 1
Mapa do roteiro presente no interior do folder entregue às pessoas participantes.
Nota. Verso do Folder de Divulgação do Evento, de Schmitt, Araújo & Gonçalves, 2024, Wikimedia Commons. CC-BY-SA-4.0.
A produção das artes de divulgação, por sua vez, foi dividida entre o Wikimedia LGBT+, a equipe do Projeto Mais e Muriel Custodio dos Passos. Este último também ficou responsável pelo cadastro do evento no Outreach Dashboard, ferramenta que possibilita o gerenciamento das métricas de atividades que envolvam plataformas Wikimedia. A divulgação do evento foi realizada por meio de redes sociais, sites e parcerias com coletivos LGBT+, como o Acontece Arte e Política LGBTI+ (organizador da Parada LGBTI+ da cidade), grupos responsáveis pela Marcha Trans, além do Floripa LGBT e Floripa Cultural. No que se refere à comunidade wikimedista, foi feita uma publicação na Esplanada da Wikipédia.
A caminhada fotográfica
Tomando a cidade como um texto cujos significados são historicamente disputados, o roteiro da Caminhada Fotográfica foi concebido como uma leitura a contrapelo, fundamentada em uma fabulação crítica em chave de gêneros das narrativas materializadas nas vias públicas e edificações da paisagem urbana (Hartman, 2022). O objetivo foi dar visibilidade a sujeitos cujos corpos desafiam os mecanismos de disciplinamento do espaço urbano e cujas memórias são marginalizadas por discursos que buscaram higienizar a cidade de Florianópolis desde o século XIX. Nesse exercício de fabulação, evocamos no início do trajeto a presença simbólica de Clô (Cláudio Orlando dos Santos), presidente da Associação em Defesa dos Direitos dos Homossexuais (ADEH) entre 1992 e 1996, cuja trajetória ilustra a luta por reconhecimento e direitos da comunidade LGBT+ em Florianópolis (Borges, 2019, p. 84; Queiroz, 2013, pp. 174-180).
A caminhada percorreu as ruas do Centro de Florianópolis, promovendo uma exposição dialogada sobre os lugares de memória da comunidade LGBT+, conduzida por Elaine Schmitt, Talita Araujo e Ailê Gonçalves, especialistas em estudos de gênero e sexualidade. O percurso teve início no IEE, seguindo pela Rua Bulcão Viana até o Largo da Alfândega. Essa escolha de trajeto teve a intenção de sensibilizar as pessoas participantes para a historicidade da paisagem urbana, especificamente o afastamento sucessivo do mar com aterros. No Largo da Alfândega, circunscrito pela Avenida Paulo Fontes, Rua Deodoro e Praça Fernando Machado, destacamos seu papel como espaço de resistência, palco de manifestações como os atos do Dia Internacional das Mulheres (8M), o movimento Ele Não em 2018 e as reivindicações pela legalização do aborto em 2023. No contexto da memória LGBT+, esse local remete a uma carreata em 1998, que percorreu o Centro em direção à Av. Beira-Mar Norte como estratégia da comunidade para reivindicar visibilidade sem se expor diretamente à repressão (Queiroz, 2014, p. 3).
Seguindo pela Rua Conselheiro Mafra, chegamos à sede da Prefeitura Municipal de Florianópolis, onde funciona o Conselho Municipal de Direitos das Pessoas Lésbicas, Bissexuais, Gays, Transexuais e Travestis (CMDLGBT), criado pela Lei n.º 10018 de 13 de maio de 2016. Órgão colegiado de caráter permanente, o CMDLGBT articula a participação do poder público e da sociedade civil, incluindo associações profissionais, núcleos de pesquisa acadêmica e organizações não governamentais (ONGs). Esse espaço evidencia a existência de instrumentalidades menores para a subversão da ordem cis-heteronormativa do Estado e a construção de políticas de garantia de direitos. Durante a Caminhada, algumas pessoas participantes comentaram sobre o formato fálico do edifício da Prefeitura, discutindo sua simbologia no contexto das relações de poder.
A partir daí, seguimos pela Rua Hoepcke até a Avenida Rio Branco, onde, no n.º 90, localiza-se o Ambulatório Trans, na Policlínica Centro. Criado em 2015, esse instrumento público oferece atendimento médico e psicossocial especializado para pessoas trans e não binárias. Convidamos as pessoas participantes a perceber esse espaço como resultado das lutas sociais travadas em âmbito local e nacional para a consolidação de políticas públicas voltadas às necessidades dessa população. Assim, o Ambulatório Trans pode ser interpretado como um elemento que desafia e ressignifica os discursos médicos historicamente normativos sobre corpos dissidentes.
O retorno ao ponto de partida da Caminhada incluiu uma parada na Rua Trajano, onde, no n.º 168, funcionam a ADEH e a Fundação Açoriana para o Controle da AIDS (FAÇA). Criada em 1992 e formalmente registrada em 1993, a ADEH surgiu em resposta à crise do HIV/AIDS, que atingia de maneira alarmante a comunidade LGBT+ (Queiroz, 2013). Com a crescente estigmatização da soropositividade e a negligência estatal, essas instituições tornaram-se espaços de acolhimento e luta por políticas públicas. Nesse ponto, destacamos que as instituições visitadas anteriormente são, em grande parte, resultado das mobilizações impulsionadas por esses coletivos.
Na sequência, seguimos até a Escadaria Nossa Senhora do Rosário, localizada entre as ruas Vidal Ramos e Marechal Guilherme. Esse espaço foi palco da primeira tentativa de realização de uma Parada Gay em Florianópolis, em 1998, evento que, segundo registros da imprensa da época, contou com a presença de apenas seis pessoas (Queiroz, 2014, p. 2). Além disso, a escadaria abrigava nos anos 1980 a boate gay Opium e, no mesmo prédio, a Ominus, entre 1993 e 1998 (Silva, 2003, pp. 52-53).
Na Praça XV de Novembro, a discussão abordou os carnavais que ali ocorreram, assim como os bares e outros espaços de sociabilidade que acolhiam públicos “alternativos”. Durante a Caminhada, houve hesitação em tratar do uso do banheiro público da Praça como um espaço de práticas homoeróticas denominadas como "pegação" (Silva, 2003, pp. 42-43). No entanto, o próprio público participante, integrante da comunidade LGBT+, enfatizou a importância de incluir esse aspecto na narrativa, destacando como essas experiências representam formas de ocupação e subversão da cis-heteronormatividade. Por se tratar de uma dimensão transgressora da vivência LGBT+, essas práticas costumam ser estigmatizadas ou apagadas dos discursos sobre a cidade.
O último ponto do percurso foi a Av. Hercílio Luz, n.º 679, onde se localizava o Bar do Roma. Apesar das intervenções urbanísticas e das políticas de higienização implementadas no início do século XX, que transformaram a avenida com a canalização do Rio da Bulha, a região consolidou-se, na década de 1970, como um espaço de boemia, frequentado por artistas, intelectuais e jornalistas, incluindo mulheres e pessoas LGBT+. O Bar do Roma destacou-se pelo carnaval frequentado por Drag Queens (à época denominadas “transformistas”), tornando-se um ponto de referência para a comunidade e um exemplo da ocupação de espaços inicialmente voltados para um público “alternativo” e, posteriormente, apropriados por sujeitos dissidentes (Silva, 2003, pp. 45-47).
Figura 2
Fotografia tirada por uma pessoa participante da Caminhada, na qual uma imagem antiga de Drag Queens que frequentavam o Bar do Roma é sobreposta ao estado atual de um edifício das redondezas, evidenciando a transformação do espaço ao longo do tempo.
Nota. Mix Casarão Passado e presente 1, de Platina 92, 2024, Wikimedia Commons. CC-BY-SA-4.0.
No retorno, refletimos coletivamente a partir das fotografias registradas, reinterpretando Florianópolis por meio de uma nova narrativa visual construída pelo olhar das pessoas participantes. A memória da comunidade LGBT+, narrada ao longo da caminhada, foi incorporada pelo público, que se tornou tanto testemunha de suas representações quanto agente de sua patrimonialização no ambiente digital. Assim, a Caminhada Fotográfica se afirmou como uma prática de história pública colaborativa, convidando as pessoas participantes a reimaginar a cidade a partir das vivências e histórias da comunidade LGBT+. Ao desafiar narrativas hegemônicas, essa experiência evidenciou a presença e a contribuição de sujeitos historicamente marginalizados na construção da memória urbana.
Avaliação do evento: limitações e oportunidades
Ao avaliarmos o evento de forma sistêmica, identificamos tanto práticas que se mostraram eficazes quanto aquelas que não atingiram os resultados esperados, além de levantar alternativas que podem ser implementadas em futuras edições[5]. Um dos objetivos centrais da Caminhada era comunicar a diversidade para pessoas que valorizam e reconhecem a importância de conhecer histórias plurais. A divulgação conseguiu alcançar esse público-alvo, com 30 pessoas inscritas para participarem da atividade. Embora o número efetivo de participantes tenha sido menor – sete pessoas – todas estavam dentro do perfil demográfico visado para o evento.
Figura 3
Gráficos representando o perfil demográfico autodeclarado pelas pessoas participantes.
Nota. Elaborados pelas autoras com base no formulário de inscrição do evento. Gráficos semelhantes se encontram em Figueredo (2024, p. 10). CC-BY-SA-4.0.
Uma possibilidade para ampliar o número de participantes é a realização das próximas edições do evento em um fim de semana. Para reduzir a taxa de desistência e, ao mesmo tempo, promover uma conexão mais profunda com a causa, sugerimos que o período de divulgação e inscrições seja de 30 a 45 dias, garantindo tempo adequado para inscrição e preparação. Além disso, para estimular a efetiva participação das pessoas inscritas, propomos a solicitação de uma contribuição simbólica, a ser destinada a uma ONG que atue na defesa dos Direitos Humanos.
Das sete pessoas participantes, quatro (57%) responderam ao formulário de avaliação do evento. Entre os aspectos mais elogiados, destacam-se o acolhimento da equipe organizadora, a oficina de capacitação ministrada, a exposição dialogada durante o roteiro, os aprendizados sobre as plataformas Wikimedia, o grupo de mensagens instantâneas e o brunch, refletindo um grau bastante satisfatório de aprovação. Essas práticas parecem ter sido bem-sucedidas.
Além desses aspectos apontados pelos participantes, destacamos a criação de um roteiro histórico colaborativo, desenvolvido com o apoio de especialistas acadêmicas, e a parceria com grupos wikimedistas consolidados. Ressaltamos também a importância do registro do evento no Outreach Dashboard, que facilitou a avaliação quantitativa dos carregamentos feitos pelas pessoas participantes. Outra prática avaliada positivamente foi o ensaio do roteiro da Caminhada antes de sua realização.
Entre os pontos de melhoria apontados pelas pessoas participantes, destacam-se o maior controle do tempo das atividades e menos pontos de parada no roteiro, o que permitiria mais tempo para perguntas e fotografias. Além disso, sugerimos a não utilização da ferramenta Montage para a votação qualitativa das fotografias submetidas a um concurso em tempo real.
Embora a programação tenha sido cumprida, adaptações foram necessárias devido a contratempos na oficina de capacitação e no roteiro histórico, totalizando 1h45 de atraso no encerramento do evento. Nesse sentido, propomos que seja organizada uma reunião prévia com toda a equipe responsável pela organização do evento, para que todos envolvidos estejam alinhados quanto à importância do controle do tempo e do foco temático do roteiro.
Ao final da programação, a atividade cultural prevista foi bastante prejudicada pelo atraso acumulado, não havendo tempo para os exercícios de aquecimento. Como alternativa, Pãe BabaObá de Audácia, Re Moraes (Mãe da Casa das Duras), Iguia Indra Nimbus (Princesa Abelha Duras) e Diana Feiticeiras sugeriram substituir a atividade programada por uma explicação histórica e teórica, acompanhada de uma demonstração prática de algumas categorias de Vogue. Por compreender o risco de realizar a prática sem os exercícios de aquecimento, a equipe organizadora aceitou a sugestão e, após uma conversa coletiva sobre a cena Ballroom e o Vogue, as pessoas artistas demonstraram categorias estéticas de Vogue, como Face e Runway, além de categorias dançantes como Old Way, New Way e Vogue Femme.
Do ponto de vista da disponibilização de conteúdo no Wikimedia Commons sobre os espaços de memória da população LGBT+ em Florianópolis, foram carregadas 148 fotografias, resultando em uma média de 21 imagens por participante. Esse número superou a média esperada pela equipe organizadora — duas fotografias por local visitado, o que corresponderia a 16 imagens por participante. Além das fotos tiradas pelas pessoas participantes, também foram carregadas no Wikimedia Commons outras 100 imagens registradas por uma fotógrafa que documentou todos os momentos da programação da Caminhada Fotográfica, incluindo a apresentação de Vogue e o roteiro (Wikimedia Commons, 2024a). No entanto, cerca de 30 das imagens carregadas pelas pessoas participantes não permitem o reconhecimento preciso do local, prejudicando a sua potência documental, educativa ou acadêmica. Nesse sentido, sugerimos um reforço na explicitação do tipo de fotografia que as pessoas devem registrar, para alinhar melhor as expectativas e garantir que as imagens atendam aos objetivos do evento.
Do ponto de vista da reutilização das fotografias nas plataformas Wikimedia, a imagem “Largo da Alfândega 2 2” foi incorporada ao item do Wikidata sobre o Largo da Alfândega, enquanto a foto “Encontro entre a religião e os gays 1” foi adicionada ao item sobre a Escadaria do Rosário. Ambos os itens foram criados em 9 de fevereiro de 2025, portanto, após a realização da Caminhada, o que demonstra como essas imagens foram essenciais para representar espaços marginalizados, como os do Brasil, que ainda carecem de registros disponíveis em repositórios de imagens livres. Esse cenário também representa uma oportunidade de expandir a atuação de eventos como este, não apenas através da fotografia, mas também ao incluir as imagens em itens do Wikidata e em verbetes da Wikipédia, contribuindo para uma representação mais plural e com mais diversidade de gênero de Florianópolis.
Uma das principais oportunidades geradas pela Caminhada Fotográfica foi o diálogo com coletivos dedicados à análise e diminuição das lacunas de representação, especialmente no que se refere aos recortes de gênero e sexualidade. O envolvimento desses coletivos no processo de organização e execução do evento ajudou a ampliar a visibilidade de temas relevantes. Isso foi possível com o emprego de habilidades como a curadoria, a capacitação e a reflexão crítica sobre a produção e difusão do conhecimento. Esse engajamento com grupos que atuam na interseção de questões de gênero e sexualidade foi essencial para enriquecer a proposta do evento, conectando-a com debates contemporâneos sobre inclusão e representatividade. A diversidade de áreas do conhecimento em que as pessoas desses coletivos se inserem oportunizou ainda a interdisciplinaridade, enriquecendo a experiência de todas as pessoas envolvidas.
Além disso, o financiamento obtido por meio da Fundação Wikimedia foi fundamental para a realização de um evento atrativo ao público, possibilitando também permitiu a remuneração das pessoas artistas que enriqueceram a experiência de quem esteve presente no dia. Assim, foi possível a produção de uma história pública colaborativa por meio de uma experiência prática com ferramentas digitais como o Wikimedia Commons. A atividade estabeleceu um diálogo com pessoas externas ao ambiente acadêmico, em que o conhecimento produzido dentro da universidade foi compartilhado com participantes ao mesmo tempo em que houve uma troca de saberes por meio dos gestos de caminhar e fotografar uma Florianópolis pelas lentes do gênero e da sexualidade. Esse suporte financeiro trouxe, portanto, a possibilidade de promover importantes reflexões sobre gênero e diversidade, que vêm sendo abordadas na universidade, de forma dialógica e transformadora com a sociedade.
Reflexões finais
A Caminhada Fotográfica para a Diversidade de Gênero no Wikimedia Commons foi uma experiência multifacetada, promovendo uma aliança entre historiadoras acadêmicas, a comunidade wikimedista e coletivos LGBT+. O objetivo foi ampliar e qualificar a representatividade desse grupo e de sua história no repositório, contribuindo para o espaço público visual e virtual. As parcerias firmadas representaram uma aproximação entre diferentes grupos, que se engajaram com um público não necessariamente acadêmico, mas interessado na história da comunidade LGBT+ de Florianópolis.
Observamos que esse público LGBT+ presente na Caminhada se reconheceu na história narrada pelo Centro da cidade, percebendo nesses espaços marcas de vivências individuais e coletivas, memórias afetivas e registros de resistência. Ao longo da Caminhada, foi possível identificar como determinados locais funcionavam tanto como pontos de encontro e sociabilidade quanto como cenários de exclusão e disputa por visibilidade. Além disso, a produção do roteiro evidenciou como a extensão universitária pode dar novo significado a pesquisas previamente desenvolvidas e divulgadas em artigos, conectando esse conhecimento acadêmico a novos públicos e usos sociais.
A experiência trouxe aprendizados valiosos tanto para as pessoas que organizam eventos wikimedistas quanto para aqueles interessados em conduzir caminhadas fotográficas. Um dos desafios foi o controle do tempo das atividades, incluindo a delimitação temática do roteiro. A flexibilidade da equipe também se mostrou essencial, tanto na adaptação da prática coletiva de Vogue Jam para uma demonstração, quanto na negociação de horários com responsáveis pelo espaço. Outro ponto fundamental foi a necessidade de estratégias mais eficazes para ampliar a divulgação do evento e garantir que as inscrições resultem na presença efetiva das pessoas no dia da atividade.
Ao refletirmos sobre a Caminhada e seus desdobramentos, lembramos das dificuldades enfrentadas na busca por documentos visuais para a produção dos materiais didáticos e de como essa iniciativa ajudou a suprir lacunas existentes. Muitas outras possibilidades, contudo, estão diante de nós, como o contato com pessoas de mais idade da comunidade LGBT+ para o levantamento de fotografias de época e outras mídias, viabilizando sua disponibilização no Wikimedia Commons. Certamente, também existem muitas outras Florianópolis esperando para serem descobertas e resignificadas. Desse modo, novos caminhos podem ser abertos para caminhadas fotográficas por diferentes roteiros, abordando a história de outros grupos sociais marginalizados. Com isso em vista, seguimos caminhando, fotografando, editando em plataformas Wikimedia, celebrando e afirmando a diversidade sexual e de gênero, lutando e conquistando direitos para a comunidade LGBTI+.
Referencias
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Notas
[1] O campo dos estudos de gênero é amplo e diverso. Em um texto que se tornou canônico entre historiadores, Joan Scott (1990) definia gênero como “um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos” e “um primeiro modo de dar significado às relações de poder”. Entre os elementos constitutivos do gênero nessa definição, encontram-se conceitos normativos que se baseiam em oposições binárias entre masculino e feminino e que rejeitam as alternativas contestatórias a esse binarismo. A comunidade LGBT+ apresenta diversos exemplos de contestação dessas normas de gênero e, de forma correlata, de sexualidade.
[2] Entre as diversas compreensões do termo “público”, destaca-se a de Hannah Arendt, que o define como compartilhamento intergeracional do mundo (Schittino, 2016).
[3] Agradecemos a Cristiano Amadeu por viabilizar esse espaço para a realização do evento. Embora não estivesse diretamente ligado a essa iniciativa, Cristiano nos incentivou a promover oficinas de fotografia com os estudantes do IEE. Assim, a realização de uma atividade na qual alunos do Ensino Médio registrem imagens do prédio e carreguem os arquivos no Commons surge como uma possibilidade futura.
[4] Na época, a sigla LGBT+ e suas variações ainda não tinham uso corrente.
[5] O relatório de avaliação do evento, escrito por Figueredo (2024), foi fundamental para as reflexões dessa parte do artigo.